Manduri ( Melipona Marginata) e a seleção genética em ASF

Essa é uma colmeia fruto de uma divisão recente(3meses) de abelha Manduri( Melipona Marginata) de cor mestiça(negra com pelos alaranjados). Mas algo estranho aconteceu! Surgiram abelhas completamente amarelas na colmeia.

Veja mais detalhes e fotos abaixo:

Segundo pesquisas há no mínimo três variações: as negras, laranjas e quase laranjas(mestiça).

Mas a grande questão é como que houve o surgimento dessa tonalidade completamente laranja numa caixa que deveria ser de cor mestiça?

Decidi fazer ciência e criar hipóteses é o primeiro passo.

1° Hipótese: É possível que na mata próximo onde estou tenha a variedade amarela o tempo em que essa colmeia ficou sem rainha( pois a rainha ficou na caixa mãe) um zangão ou princesa amarela veio fecunda-la, pois coisas do tipo podem acontecer. O artigo: "Estranho no ninho, Revista FAPESP- ed.212 - Francisco Bicudo " comentam que há uma grande troca genética. O detalhe é que a maiorias dos casos a abelha possui a mesma cor sendo quase impossível perceber visualmente que a genética mudou. Fica assim essa ressalva quando se fala em seleção genética de abelhas sem ferrão. Seria preciso um isolamento mais sistemático para de fato uma seleção(caso seja a intenção) ser feita com eficiência.

2° Hipótese: O endocruzamento foi capaz de alguma forma gerar essas variações.
Como seria difícil reproduzir a possibilidade de um zangão forasteiro ser o autor da

mudança de cor decidi adotar sucessivas divisões e analisar o que acontece com essa colônia filha e com a mãe.

Abaixo imagens da primeira divisão que contem abelhas mestiças(negar+pelos alaranjados) campeiras da colônia mãe e as nascentes de cor laranja proveniente da rainha nova. A divisão foi feita em janeiro/2016, em 11/fev/2016 foi notada a mudança no fenótipo(cor) e em 26/mai/2016 já estavam completamente laranjas.

30/set/2017: Passado aproximadamente 16meses(1ano e 4meses) esse única colônia matriz deu origem a 9 colônias filhas 3x puramente amarela,3x mestiças,3x negras.

Observações importantes das condições iniciais: Não foi introduzido nenhuma outra outra colônia para evitar maiores interferências. Essa única caixa matriz foi trazida de uma região a 180km para o local onde as observações são relatadas.

Após as sucessivas divisões começou a surgir um padrão e que funciona assim:
Inicialmente uma colônia mestiça(negra com pelos laranja) é  dividida e a primeira colônia filha fez uma provável autofecundação com algum macho com perfil laranja dando origem a uma abelha laranja(completamente laranja). Abaixo um vídeo mostrando essa colônia:

Dessa colônia laranja foi feita uma divisões e deu origem a uma pura amarela idêntica a ela numa primeira divisão.
Numa segunda divisão deu origem a uma colônia que tem abelhas mestiças(negra com pelos laranja) + abelhas laranja, na mesma colônia(+-50% de cada).
Então, basicamente nota-se que uma colônia com princesa pura laranja gera filhos laranjas caso seja fecundada por macho laranja e gera colônia mestiça caso seja fecundada por macho negro (co-dominância)
O detalhe é que os machos tanto da laranja quanto da negra são todos negros.
As colônias puras negras foras divididas e deram origem em todos os casos a colônias completamente negras.
OBS: Ainda não foram feitas experimentações com a presença de machos puros laranja com princesas puro negra.
Abaixo imagem de uma colônias com abelha de cor completamente negra(pelos e corpo negros):

Para quem gosta de fazer seleção ou trabalhar com pesquisa a cor pode ser um bom marcador genético para nortear as divisões e ter um mínimo controle. Mas é importante ressaltar que a dinâmica genética dos demais acordos obedece a regras diferentes. Trata-se apenas de uma observação sobre a expressão do fenótipo: cor, que torna-se de fácil rastreabilidade pelo criador ou pesquisador.
Essas são as minhas observações com base em varias divisões dessa única colônia matriz que deu origem a 3 fenótipos: completamente negra(1), completamente laranja(2), mestiça(negra+pelos laranja)(3).
Sendo possível encontrar colônias padrões de colônias: completamente negras(A), completamente Laranja(B), completamente mestiça(C), mestiça+amarela(+-50% de cada)(D)
Conclusão:
E a hipótese inicial de que um macho estranho originário da mata tenha trazido um fator genético de cor amarela não se mostrou necessário para o surgimento do fenótipo puro laranja.
Mostra-se mais provável que uma colônia mestiça gera pelo menos machos de carga genética negra e laranja e que a combinação de uma macho de carga laranja ao cruzar com uma princesa mestiça deu origem a uma colônia de fenótipo puramente laranja.


Referência:
"Estranho no ninho, Revista FAPESP- ed.212 - Francisco Bicudo ",<https://drive.google.com/file/d/0B5Ty0xKzazEVdXo1dUhVRTZTd1k/view?usp=sharing> 30/set/2017